As Árvores e os Livros


Uma pequena homenagem à Poesia e à Árvore? Que seria de uma sem a outra?



As árvores e os livros
As árvores como os livros têm folhas
e margens lisas ou recortadas,
e capas (isto é copas) e capítulos
de flores e letras de oiro nas lombadas.

E são histórias de reis, histórias de fadas,
as mais fantásticas aventuras,
que se podem ler nas suas páginas
no pecíolo, no limbo, nas nervuras.

As florestas são imensas bibliotecas,
e até há florestas especializadas,
com faias, bétulas e um letreiro
a dizer: «Floresta das zonas temperadas».

É evidente que não podes plantar
no teu quarto, plátanos ou azinheiras.
Para começar a construir uma biblioteca,
basta um vaso de sardinheiras.

Jorge Sousa Braga, Herbário (2002)

Amo


Amo-te

Amo-te, sim, é sincero,
Amo-te…
Sim, é a ti que eu quero.

Dava tudo para o tempo voltar atrás,
Estar de novo ao teu lado…
Alcançar-te…
Quem me dera voltar ao passado.

Foram poucos os momentos juntos,
Mas tudo guardei.
São poucas as memórias,
Mas eu sempre tudo recordarei.

Ainda me lembro…
Conhecemo-nos e eu dizia-te odiar,
Mas como diz o ditado…
Com tanto ódio, acaba-se por amar.

Por momentos pensei que esse sentimento fosse mútuo,
Pois teus gestos eram isso que diziam…
Mas depois tudo mudou,
E no fim descobri que teus gestos mentiam.

Mas já era tarde quando isso descobri,
Pois quando dei por mim…
Já só em ti conseguia pensar…
Quando dei por mim, já de ti estava a gostar.

Sim, foi preciso pouco para me hipnotizares,
Deste-me asas para voar,
E em seguida tiraste-mas…
E eu cai, sem ninguém lá para a queda me aparar.

Já me tinham avisado em relação a ti.
Mas eu não quis saber
E insisti,
Em contigo um amor tentar.

E agora? O que posso fazer?
Agora que te amo…
O meu destino é novamente sofrer.

Porquê?
Se tuas intenções eram só um bom momento passar,
E em seguida me abandonar…
Porque é que me enfeitiçaste de forma a de ti ficar a gostar?
Ou melhor, gostar é pouco…
Eu digo com toda a certeza que te amo!
Pois pensar em alguém dia e noite…
Amor a isso eu chamo

Eu amo-te,
E é por isso que…
Sempre que tento adormecer,
A tua imagem teme em aparecer;
E é abraçada a uma miragem
Que eu me deixo dormir,
Pois assim é uma maneira
De a saudade diminuir.
E tudo parece tão real,
Mas de manhã abalada me sinto, pois tudo foi fantasia…
E é isso que me deixa tão mal,
E sempre que quero esquecer,
Lembro-me dos teus olhos, do teu riso
E isso tanto me faz enfraquecer.
Pois por um lado, nunca mais te quero ver
E por outro, sinto tantas saudades do teu ser
E sempre que tento por ti lutar,
Lembro que me fazes sofrer
E que sempre me irás derrotar,
Pois por mais que eu pense que não,
Tu nunca irás mudar…

Fazes-me tanta falta…
Preciso tanto de ti,
Por favor, eu peço: “volta para mim”,
Mas não voltes assim…

Não voltes sendo aquilo em que te transformaste,
Volta sendo tu próprio,
Sendo aquele ser
Que anteriormente me mostraste.

Pois preciso de ti,
E não do alguém por quem te fazes passar,
Preciso de ti sincero
E não naquele alguém em teimaste mascarar.

E é a pensar que vais voltar,
Que eu ainda consigo viver
É a pensar que me vais voltar a abraçar
Que eu continuo o meu caminho percorrer.

Eu amo-te
E é por isso que sempre que te imagino de novo a meu lado,
Faz-me voar…
E só de pensar que já te tive no passado
Dá-me vontade de lutar.
E sempre que te vejo,
Quero te tocar…
Mas sei que não devo,
Porque me irás voltar a magoar,
E sempre que tento ignorar,
Não consigo…
Pois o sentimento é tão forte
Que não me deixa libertar.
Eu amo-te…
Dá-me uma oportunidade de demonstrar…
Amo-te tal como és,
Simplesmente por te amar.
Eu amo-te
E não me canso de o dizer.
Eu amo-te,
Fica comigo não me faças sofrer.
Eu amo-te,
Sem ti nada faz sentido.
Por favor mostra-me
Que ainda é possível ficar contigo.

Mas depois penso…
Que para ti…
Fui apenas mais uma,
E isso faz-me recuar,
Faz-me baixar as armas
E ter medo de novo tentar.

Porque é que preferes ser
Um vilão disfarçado
A um príncipe encantado?

Tu que para mim és perfeito,
Tu que para mim és o escolhido,
Por vezes colocas uma mascara
De um alguém que me é desconhecido.

Eu amo-te
E por ti faria tudo.
Eu amo-te, por ti iria até ao fim do mundo.


Luana de Brito Pereira (aluna da ESFFL)

Vá à Feira do Livro, às livrarias, às bibliotecas que emprestam livros e traga um livro.
Leve o livro para casa.
Leve o livro para a cama.
É sempre uma boa companhia. Quando lê, nunca está sozinho.
Mas primeiro dispa-o cuidadosamente do papel ou do saco de plástico que o envolve.
Depois, pode demorar-se a apreciar a encadernação, acariciar a lombada, abri-lo lentamente, folheá-lo devagarinho até encontrar uma ilustração mais interessante, pode voltar ao princípio, começar a lê-lo sem presas, entusiasmar-se e mesmo acabar de repente, com sofreguidão.

E pode começar de novo de uma maneira ou de outra. Um livro tem sempre algo de diferente a revelar, às vezes custa é descobri-lo.
Pode voltar a pegar-lhe no dia seguinte, todos os dias, até se cansar, que ele permanece sempre a seu lado.

Não precisa de fazer uma leitura segura: não é necessário pôr-lhe uma capa plástica para o proteger. As suas mãos podem sentir-lhe a textura, a suavidade, a qualidade do papel, o cheiro da tinta e o pior que pode acontecer-lhe é ficar seduzido para sempre.

Pode lê-lo em qualquer posição, de trás para a frente, de frente para trás ou mesmo começar pelo meio. O livro está sempre disponível para se entregar a quem o ama.

Talvez seja mesmo o primeiro a tê-lo, e então haja com mil cuidados, porque vai querer saborear esse momento raro de colher as primícias do seu conteúdo.

E também há-de querer lê-lo mais vezes.
Leve um livro para a cama.
Ler, às vezes, é quase tão bom como fazer amor.
Leve um livro para a cama, hoje, amanhã, sempre.

Henrique Barreto Nunes

Havia uma lua de prata e sangue
em cada mão.

Era Abril.

Havia um vento
que empurrava o nosso olhar
e um momento de água clara a escorrer
pelo rosto de mães cansadas.

Era Abril
que descia aos tropeções
as ladeiras da cidade.

Abril
tingindo de perfume
os hospitais
e colando um verso branco em cada farda.

Era Abril
o mês imprescindível que trazia
um sonho de bagos de romã
e o ar
a saber a framboesas.

Abril
um mês de flores concretas
colocadas na espoleta do desejo
flores pesadas de seiva e cânticos azuis
um mês de flores
um dia
um mar de flores
um mês.

Havia barcos a voltar
de parte nenhuma
em Abril
e homens que escavavam a terra
em busca da vertical.

O nosso lar passou a ser a rua
nesse mês sem sono.

Era Abril
e eu soltei o sumo
da palavras
e vi
dicionários a voar
nesse mês
e mulheres que se despiam abraçando
a pele das oliveiras.

Era Abril
que veio
que ardeu
e que partiu.

Abril
que deixou sementes prateadas
germinando longamente
no olhar dos meninos por haver.


José Fanha, in "Tempo Azul"

O MAR



Dizem que olhamos o mar
E vemos o azul da vida
Dizem que olhamos o mar
E vemos a vida percorrida.

Mas nós não olhamos o mar,
Ele é que nos olha a nós,
Presente em tudo o quer passa
Embala-nos com a sua voz.

Vezes sem conta eu olho o mar
E sinto uma estranha leveza,
Parece que ele me faz aprofundar
Na minha própria riqueza.


Sandra Salgadinho (aluna da ESFFL)

Dia Mundial da Poesia

Festejamos hoje, 21 de Março, mais um Dia Mundial da Poesia ( e um ano de existência) com poemas "alinhavados" por alunos da nossa Escola:

A Vida

É assim aos dezassete
Ri, chora
Tudo sonha, tudo quer
Como se fosse criança.

Lá em casa só reclamam:
“Ai, como a vida é dura!”
Ela, pura, desconfia
Que a vida rodopia,
Todos choram, todos amam.

A vida é assim tão ruim?
Vai por mim e aproveita
Esta vida tão imperfeita
Canta e dança até ao fim.

Sandra Salgadinho (aluna da ESFFL)

Imaginação


A imaginação é o infinito
O tudo e o nada,
O fim e o início de tudo.
É poder por burilar,
Imortalidade mascarada,
Barulho mudo.

Ignorar a imaginação
É negar o nosso direito à riqueza
Ao amor e à beleza.
É esconder o coração
E condensar os sentimentos
Em curtos momentos.


A imaginação é o culminar
Das nossas fantasias,
Das ilusões e das mentiras,
Do lutar e do amor.
É o fim de todas as nossas vivências,
Felizes ou infelizes,
Más ou boas
Mas é, principalmente, o que somos
De onde viemos e para onde vamos.

Quem somos e
Quem queremos ser.
Mónica Lopes 10º A

AS MÃOS DO MEU PAI


As tuas mãos têm grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já cor de terra
— como são belas as tuas mãos —
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram
na nobre cólera dos justos…

Porque há nas tuas mãos, meu velho pai,
essa beleza que se chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam
nos braços da tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas…

Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente,
vieste alimentando na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los contra o vento?
Ah, Como os fizeste arder, fulgir,
com o milagre das tuas mãos.

E é, ainda, a vida
que transfigura das tuas mãos nodosas...ia
essa chama de vida — que transcende a própria vida...
e que os Anjos, um dia, chamarão de alma...

Mário Quintana
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